Palavras Negras: idealizadora da Editora Escaleras conversa sobre a mulher negra na literatura

A escritora Débora Gil Pantaleão segurando seu livro "Sozinha no cais deserto" (foto: Laianna Janu).

Qunantxs escritorxs negrxs você já leu? Quantxs você conhece? O Palavras Negras, edição especial do site Lugar Afro, tem o intuito de apresentar escritores e escritoras negras que residem na capital paraibana e os trabalhos que realizam. A entrevista de estreia foi com Débora Gil Pantaleão.

Escritora e idealizadora da Editora Escaleras, Débora Gil Pantaleão, 28 anos, natural de João Pessoa, é doutoranda em Letras pela Universidade Federal da Paraíba. Seu contato com a produção literária começou cedo e de forma inesperada. “Tudo começou do nada e não teve ninguém que tenha me influenciado, eu apenas comecei a escrever”, disse. Já na infância, conquistou dois fieis leitores para quem mostrava o que produzia, sua mãe, Sebastiana Gil de Oliveira, e seu primo, Sheldon Miriel Gil Dantas.

Ainda na adolescência, por influência de seus primos, Débora passou a ler grandes nomes da literatura internacional, como Stephen king, Sidney Sheldon e Agatha Christie, enveredando também por obras de autores importantes da literatura brasileira, como Alvares de Azevedo e Cecília Meireles, nomes que inspiraram suas produções literárias.

Obras literárias

Aos 28 anos de idade, Débora Pantaleão já soma cinco obras de sua autoria, sendo três livros de poesia e dois de prosa. Sobre o seu olhar acerca das produções literárias, a autora diz não concordar com o viés dicotômico que é imposto à literatura.

“Não acredito no termo poesia feminina, para mim isso não existe, assim como também não existe uma literatura masculina. Literatura não tem sexo”, declarou.

As obras de Débora Gil Pantaleão trazem questionamentos acerca do papel de Deus, da igreja e do cristianismo na sociedade, e também perpassa temas pertinentes como o suicídio. “Nas minhas obras falo sobre o suicídio porque é um tema que deve ser tratado e as pessoas não tratam. Inclusive, alguns dos meus livros abrem esse diálogo porque quanto menos a gente fala, mais suicídios acontecem”, afirmou a escritora.

As obras literárias da escritora Débora Gil. Da esquerda para a direita, estão os livros “Nem uma vez uma voz humana”, “Sozinha no cais deserto", “Vão remédio para tanta mágoa” e "Se eu tivesse alma"(foto: Laianna Janu).

Em 2015, Pantaleão lançou seu primeiro livro, a coletânea de poemas “Se eu tivesse alma”, pela Cia. do eBook. A versão impressa saiu em 2016 pela Editora Benfazeja. “Quando lancei o primeiro livro, fiz um recorte de diversos poemas que eu havia produzido, mas que não tiveram espaço para publicação, então eles terminaram entrando nessa coletânea”, explicou.

Em seguida, a escritora lançou seu segundo livro de poesia, o “Vão remédio para tanta mágoa”, juntamente com seu livro de contos o “Nem uma vez uma voz humana” e também a novela “Causa morte”, todos em 2017. O mais recente lançamento de Débora Gil é o livro de poesias “Sozinha no cais deserto”, publicado esse ano pela sua própria editora, Escaleras.

Editora Escaleras: uma emancipação literária

De acordo com a escritora, a Editora Escaleras teve sua estreia realizada no Primeiro Encontro Nacional do Mulherio das Letras, que ocorreu na capital paraibana, em outubro de 2017. “Na estreia, a gente não tinha nenhum livro em mãos porque eles estavam na gráfica, eram “Nem uma vez uma voz humana” (contos), o “Vão remédio para tanta mágoa” (poesia), e o livro da autora Maria Valeria Rezende, um dos primeiros livros a serem lançados. No evento, falamos sobre isso e como estavam os andamentos dos nossos trabalhos na Escaleras, foi uma felicidade”, relatou.

Débora Gil (foto: Laianna Janu)

Além de Débora Gil, a Editora Escaleras também conta com o apoio de uma equipe que faz o trabalho acontecer: Jennifer Trajano, revisora ortográfica; Ícaro Medeiros, capista e autor da logo da editora; e Bruno Brum, diagramador. Sobre a relação que Débora tem com a equipe, ela afirma: “é muito prazeroso, são pessoas bastante competentes que me ajudam a fazer a editora funcionar, é uma parceria muito boa”.

A falta de espaços para a produção negra no mercado literário ainda é uma realidade, pois são poucos os que se destacam e ganham visibilidade nas grandes editoras e livrarias. Esse foi um dos motivos que impulsionou Débora a fundar a Escaleras: ter autonomia na produção e divulgação dos seus livros. “Passei a publicar meus próprios livros pela dificuldade de acesso e também por mandar os livros e as editoras demorarem a me responder. Então, a partir do momento que me autopublico, não tem mais essa dificuldade porque eu sou a própria mulher negra que me publica”, contou.

O mercado literário ainda é, em sua maioria, dominado por homens brancos, o que impulsiona a invisibilidade de mulheres escritoras, principalmente as escritoras negras que são vítimas do racismo institucional.

“Eu tive esse momento de olhar pra minha estante e ver que tinha muito mais autores homens do que mulheres, mas isso tem se modificado nos últimos dois anos. Agora tem muito mais mulheres”, confessou Débora.

E ao falar sobre aspectos machistas que circundam o mundo da literatura, ela completou: “Às vezes, acontece de um escritor que tem algum cargo de prestígio elogiar a sua obra e a gente fica mais feliz do que se fosse uma mulher. Isso é horrível e a gente sabe que é culturalmente construído”.

Segundo Débora Gil, a Editora Escaleras também surgiu com o intuito de dar visibilidade a produções de mulheres escritoras e também somar na luta contra a falta de representatividade. ”A Escaleras tem muito esse papel de publicar, principalmente, autoras mulheres, publicamos homens também, mas queremos dedicar mais espaços para autoria feminina e também impulsionar a publicação de autoras e autores trans”, concluiu.

Para conhecer mais sobre o trabalho de Débora Gil Pantaleão é só conferir o instagram e o site da Editora Escaleras:

Instagram: @editoraescaleras

Site: http://www.editoraescaleras.com/loja/