Ato em defesa aos direitos das mulheres marca 8 de março em João Pessoa
- Elizabeth Souza
- 9 de mar. de 2019
- 4 min de leitura

Realizada nesta sexta-feira, 8, em razão do Dia Internacional da Mulher, o Ato 8 de março JP: mulheres vivas, livres e por direito teve uma vasta programação que começou às 14 horas em frente ao Teatro Santa Rosa, no centro de João Pessoa. Direito ao aborto, fim do femincídio e do racismo, denúncia contra as reformas trabalhista e da previdência e cobrança de respostas pelos assassinatos da vereadora Marielle e Anderson, que esse mês completam um ano, foram algumas das pautas levantadas pelo ato.
“O silêncio não vai te proteger”, frase dita pela escritora caribenha-americana e feminista Audre Lorde, é uma das premissas abraçadas pela manifestação que reuniu um mar de mulheres que tomou conta das ruas de João Pessoa clamando pelo fim da violência que, anualmente, ceifam vidas femininas.

Dados da pesquisa realizada em 2018 pelo Data Folha detectou que 536 mulheres foram agredidas por hora no Brasil, equivalendo a 9 por minuto; o Atlas da Violência 2018 mostrou o aumento de 15,4% de mulheres negras assassinadas no país no período de 10 anos, mostrando também que, neste mesmo período, o homicídio de mulheres brancas havia diminuído. Na Paraíba, de acordo com dados do Anuário da Segurança Pública da Paraíba, apenas em 2018, 84 mulheres foram assassinadas. São números estarrecedores que precisam ser vistos e compreendidos pela sociedade para que, assim, sejam combatidos.
Perante essas realidades, mulheres negras, brancas, indígenas, LGBTs de diversos coletivos e movimentos culturais, políticos e sociais marcaram presença na manifestação, a exemplo de Maria Soares Gomes, 50, índia Potíguara e presidente do grupo Mulheres guerreiras indígenas potiguaras da Paraíba. “Estamos aqui com muita honra, na mesma luta com companheiras de outros movimentos porque o nosso objetivo é lutar pelo melhor de todos os povos e ajudar toda a população brasileira, porque nós indígenas também somos Brasil”, afirmou.

Moradora da Comunidade Quilombola do Grilo, localizada no município Riachão do Bacamarte, na Paraíba, dona Maria de Lourdes, 72 anos, também marcou presença no ato juntamente com outras mulheres quilombolas da região e firmou a importância em se fazer presente em um momento de reivindicação dos direitos das mulheres. “"A gente tem que sempre lutar contra o machismo e o racismo, tento sempre passar isso para as mulheres da minha família e é muito importante estar com elas aqui hoje", contou.
Diversas mulheres lésbicas, bis e trans também somaram na luta do Dia Internacional da Mulher. O Brasil, país que mais mata LGBTs no mundo, anualmente escancara números da violência contra a população LGBT, e com a atual conjuntura política os poucos direitos conquistados estão sendo colocados em risco.
Integrante, há 16 anos, do Grupo de Mulheres Lésbicas e Bissexuais da Paraíba - Maria Quitéria, Marli Soares conta que é fundamental alertar que o 8 de março não é uma data comemorativa, mas de reflexão e posicionamento em meio às atrocidades sociais que diariamente tentam invisibilizar as voz das mulheres lésbicas, “porque estamos vivendo um período de perdas de direitos, então esse dia vem nos dar visibilidade, mostrar que estamos aqui, nós existimos. Há 16 anos que o Maria Quitéria vem fazendo trabalho de formiguinha pra que a gente seja reconhecida porque há uma própria parcela do feminismo que nos invisibiliza"
"Estamos aqui pra ocupar o espaço que também é nosso e também para combater essa história de voltar pro armário, não vamos voltar e estamos aqui pra mostrar que o armário, mais do que nunca, tem que estar aberto”, asseverou Marli.

Outra pauta debatida pela manifestação foi a vida das mulheres negras, que compõem a base da pirâmide social e que sofrem o peso do machismo e do racismo. Fernanda Ferreira, mulher negra, atriz e educadora, esteve presente nesta sexta-feira e acompanhou todo o ato e reiterou a fala de Marli Soares, ao afirmar que a data que marca o Dia Internacional da Mulher não deve ser enxergado como um momento de entrega de flores e chocolates, mas de somar forças na luta das mulheres. A artista também afirmou que o feminismo ainda precisa trabalhar de forma mais acolhedora a pauta das mulheres negras que sofrem uma forte violência por serem a base da sociedade.
“Não temos o que comemorar. Mesmo no ato como o de ontem é impossível não perceber que o lugar da mulher negra é de muito retrocesso. É preciso que a sociedade, o feminismo revejam suas atitudes e efetivamente deem as mãos para as mulheres negras para que esse quadro seja revertido”, frisou.
Nome bastante citado durante todo o evento, Marielle Franco foi homenageada e teve sua caminhada relembrada como símbolo de luta e resistência pelos participantes que cobravam respostas pelo assassinato que pôs fim à vida da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes. Presente no ato, Tarcio Teixeira, presidente estadual do PSOL, partido que Marielle atuava, comentou o prestígio em poder presenciar um momento forte e emocionante realizado pelas mulheres em João Pessoa.
“Esse 8 de março tem sido pra gente um momento muito gratificante por dois motivos: primeiro, pela primavera feminista ter tomado corpo cada vez mais, não só no nosso país mas no mundo como um todo e segundo por estar sendo referenciada em todos esses atos do Dia Internacional da Mulher a nossa companheira Marielle Franco, uma guerreira, mulher, militante, negra, lgbt, do PSOL, que virou semente porque a voz dela segue viva em cada um de nós”, declarou Tárcio.

Permeado por diversas linguagens como o teatro, a poesia, o jogral e a dança, o Ato 8 de março JP: mulheres vivas, livres e por direito reforçou a importância de um feminismo plural que abarque a causa de todas as mulheres e que esteja atento para a realidade de cada uma delas. Integrante da Articulação de Mulheres Brasileiras e membro da organização do Ato 8 de março em João Pessoa, Mônica Borges afirma que a passeata das mulheres, em meio ao governo atual que tenta usurpar direitos das cidadãs, é um verdadeiro símbolo de resistência e posicionamento. “O 8 de março em João Pessoa foi um ato que deu oportunidade a nós mulheres do campo e da cidade, a diversidade das mulheres, estarem nas ruas, em um momento de muita potencialidade, coletivo e afeto, foi um ato belíssimo”, concluiu.
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